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Espaço

CEDOPORMAR

By 3 de Março, 2024Abril 29th, 2024No Comments

Os portos marítimos quinhentistas: ao encontro das fontes originais

Se queremos beber da história da expansão marítima portuguesa e da construção naval no século XVI, sem extrapolações e suposições, nada como consultarmos o que à época foi registado. A estas fontes primárias dá- nos livre acesso o CEDOPORMAR – Centro de Documentação dos Portos Marítimos Quinhentistas, extensão especializada do Arquivo Municipal de Vila do Conde.

Instalado no primeiro piso do edifício Alfândega Régia – Museu da Construção Naval, um dos polos do Centro de Artes Náuticas, o CEDOPORMAR é, no entanto, muito mais do que o seu espaço físico: a maioria do seu impressionante acervo, composto por dezenas de milhar de documentos sobre os portos marítimos quinhentistas com ligação a Vila do Conde, está digitalizado, podendo ser consultado online a partir de qualquer lugar.

Ou seja, somos todos convidados a “folhear” reproduções digitais de documentação escrita e iconográfica guardada em bibliotecas e arquivos nacionais e estrangeiros. Abrindo páginas no tempo, descobrimos a história dos burgos marítimos portugueses, o seu encontro com o mundo e, sobretudo, a “Vila do Conde Quinhentista” – da construção naval às rotas de navegação e consequente comércio ultramarino.

Na génese do CEDOPORMAR está o trabalho de recolha documental e tratamento de conteúdos realizado pela investigadora e professora universitária Amélia Polónia, no âmbito da sua tese de doutoramento “Vila do Conde – Um Porto Nortenho na Expansão Ultramarina Quinhentista”.

Como ter acesso aos documentos históricos?

Porque os registos do século XVI são de difícil leitura, dadas as transformações linguísticas ao longo dos séculos, por trás de cada documento quinhentista digitalizado e disponível online está um trabalho exaustivo de leitura, transcrição e síntese. Deste modo, temos acesso quer à sua versão sumariada quer ao registo original.

Para consultarmos o acervo digitalizado, basta aceder à aplicação informática GISA. O acesso gratuito a toda a informação pode ser realizado através de pesquisa livre ou orientada: todos os documentos estão indexados por critérios orgânicos, cronológicos, temáticos, onomásticos ou geográficos, de acordo com as normas internacionais de descrição arquivística.

O que nos oferece a visita ao CEDOPORMAR?

São vários os motivos que tornam a visita ao espaço físico do CEDOFORMAR numa experiência enriquecedora.

Primeiro, porque temos acesso a documentos que ainda não estão online. O projeto deste Centro de Documentação é um “work in progress”, continuamente enriquecido com a entrada de novos registos cujo tratamento, para posterior consulta pública, é exigente. É o caso do acervo do Mosteiro de Santa Clara, emblemático monumento de Vila do Conde, ainda a ser tratado devido à sua extrema complexidade.

Segundo, porque aqui é possível consultar, com auxílio profissional, a diversa documentação. Damos como exemplo os mais de 300 mil registos paroquiais de Vila do Conde e Póvoa de Varzim, reunidos pelo investigador e professor Alberto Oliveira: graças ao seu trabalho incansável, cidadãos com ligação familiar à região poderão fazer a sua árvore genealógica.

Terceiro, porque podemos ver e folhear versões fac-similadas de obras singularíssimas, tais como a “Carta Náutica de Jorge de Aguiar”, (1492) e o “Livro de Traças de Carpintaria” (1616) de Manuel Fernandes, um manual da construção naval da época.

Quarto, porque num edifício imbuído da velha cultura marítima – a Alfândega Régia – o encontro com as fontes primárias, o princípio de todos os estudos da História, decorre num ambiente onde tudo apela à imersão no tempo e com o apoio técnico de profissionais com um sentido pedagógico apurado.

Por tudo o que expomos, o CEDOPORMAR é um “habitat” de investigadores, mas também um espaço de visita aberto ao público em geral. No que toca às novas gerações, marcadamente digitais, “cedo-por-mar” é também “cedo-formar”, com este projeto a sensibilizar para a importância do passado na formação da identidade de um povo e de uma região.